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domingo, 7 de março de 2010

A Queda


...Lúcifer foi o primeiro, o mais poderoso, e mais belo de todos nós. Ele era amado, adorado e respeitado por todos nós, os Alitíssimos Anjos, e sob o seu comando demos vida e forma a toda a Criação, fazendo se tornar real toda a vontade de nosso Criador Lúcifer viu um mundo magnífico se desdobrar diante de seus olhos, e assistiu do alto de seu comando, a criação dos homens, das plantas e dos animais, viu um mundo que poderia ser apenas seu.
E então fez o que era até então impensável: desafiou o poder supremo de Deus.
Conseguiu juntar um terço das Hostes Celestes sob seu comando, dando origem assim ao que chamamos de Primeira Rebelião. Porém me mantive fiel ao Criador, e aturei até mesmo a dor de destruir meus irmãos, pois acreditava em Seu julgamento.
Vi os anos se tornarem séculos, os séculos se tornarem milénios, e a humanidade cresceu e se desenvolveu de maneira impressionante... E eu os acompanhava tristemente, por não poder mostrar a eles a verdadeira dimensão de sua existência.
Era um mero Ceifeiro, um Anjo da Morte, pertencente a ultima casa celeste.
Tínhamos a árdua tarefa de trazer a morte a todas as coisas vivas para que a renovação pudesse ser feita. Dar fim ao que já era velho, para que assim o novo pudesse nascer.
Mas em uma noite chuvosa meu coração fraquejou....

... Sempre a observei ao longe, e sempre cuidei dela, eu a virá nascer de um parto difícil, quando tive que levar a alma de sua mãe que morrerá de complicações.
Oito anos mais tarde foi a vez de seu pai, que morreu em um incêndio criminoso á uma igreja. Tristemente cumpria meu dever...
Ela então foi levada para ser criada junto a seus tios, em uma grande cidade ao oeste. Eu a via como uma filha, e então pude entender porque Ele os amava tanto... Eram de fato fascinantes. Ela cresceu velozmente, assim como todos os humanos, e em um piscar de olhos ela atingira a idade adulta.
A amava, amava como um pai ama seu filho, como Deus amava a Humanidade. A nós foi nos dada apenas duas ordens derradeiras antes que Ele se calasse após a Primeira Rebelião:
A primeira foi para que amássemos a humanidade, Seus filhos, e que esse amor fosse comparado ao nosso amor pelo próprio Criador. E a segunda foi para que apesar de nosso amor, jamais nos fazermos ver, ouvir ou mesmo ser sentidos de modo algum...
Mas sabia que um dia teria que cumprir meu dever... E rezava todos os dias para que isso não acontecesse. Mas seria inevitável um dia...
O que faria? Trairia a Deus por uma humana? Seria eu capaz de matar aquela que amava? Naquela noite chuvosa eu descobri...

Era inverno, e chovia uma chuva fraca e fina, como lágrimas caída dos céus.
Eu sabia que seria hoje... Sentia isso...
Ela caminhava pelas ruas, voltava para casa, como sempre fazia todos os dias, pois sempre ia ao mercado comprar frutas e verduras frescas, mas naquele dia acabou por se atrasar mais do que o de costume, e quando voltava as trevas já cobriam os céus... Eu a observava ao longe, e eis que o meu temor começava a tomar forma...
Saindo das sombras escuras de uma rua um homem se aproximou. Ele a segurou pelo braço e a jogou contra parede... Meu coração se encheu de dor...
E violentamente a puxou para dentro do beco escuro pelas nuvens, que vagarosamente encobriam a lua cheia... A duvida tomou conta de mim, o que eu farei agora?
Ela ainda era jovem e possuía tantos sonhos... Por que ela tinha que morrer? E por que teria que ser eu a lhe cortar o laço que lhe prendia sua alma ao corpo?
Ela gritava e clamava por ajuda, clamava á Deus para que alguém a salvasse. Seus gritos eram como navalhas em meu coração...
O homem então a segurou pelos cabelos, e bateu a cabeça dela contra parede, para que assim parasse de gritar, ela perdeu a consciência e desmaiou...
Eu então fui tomado pelo ódio...

Lá estava eu a abraçá-la em meus braços, e jamais irei esquecer essa sensação.
Ela já não possuía ferimentos e minhas asas negras lhe envolviam, cobrindo-a da chuva que ainda caia fina e constante, e assim não pode ver o homem que a atacou, morto, destroçado e irreconhecível atrás de mim... Ele sofreu minha fúria.
Quando ela abriu os olhos, estava ainda encharcada pela água e próxima a sua casa, ela jamais soube o que de fato houve... A mim restava apenas esperar...
Não tardou para que recebesse a visita de meu superior, Uriel, Serafim do Mundo Escuro. Com sua chegada até mesmo a luz da rua e das casas pareciam desviar de sua figura imponente como se o temessem, ele possuía grandiosas asas negras, como era comum entre nós Anjos da Morte, e sua sombra era como se a infinidade do Universo estivesse pousado sobre nós.
Ele olhou para mim, e ao falar o mundo conhecido calou-se, e suas palavras eram como rajadas de vento em meio a escuridão.

- Como és tolo Mikharaziel, Emissário dos Ventos Noturnos, serás condenado por uma simples humana que jamais irá lhe dar valor, ou saber de vossa existência.

Eu sabia o que eu havia feito e estava preparado para aguentar as consequências, eu sabia que havia cometido um crime, trai as ordens de Deus e me revelei ao mundo, mas não tinha arrependimentos. E olhando para meu Mestre por fim falei.

- Não me arrependo de meus feitos, e sofrerei as consequências por eles, a nós foi nos dito para amar a humanidade com um amor comparável ao que sentimos por nosso Pai e assim eu fiz. Eu a amei.

Falei, fitando o Serafim imponente, como só a Escuridão poderia ser, vendo como a luz parecia relutante em se aproximar. Então o vento formado pela voz serena, e ao mesmo tempo sombria de Uriel tornou a soprar em meus ouvidos. Mas eu pude sentir pesar e tristeza em sua voz.

- Falhou para com vossas obrigações Mikharaziel, falhou perante nosso Criador, falhou para comigo... e vai falhar novamente perante a Criação.
Por seu pecado, sereis vós condenado a se tornar um humano, fraco, dependente e limitado. De toda vossa Glória vai sobrar apenas uma centelha do fragmento do que um dia foi vossa Luz.

E assim foi, como uma sombra silenciosa Uriel voltou para os Céus, e jurei ter escutado uma ultima brisa, triste e suave dizendo baixinho em meus ouvidos.
- Um dia ainda nos veremos novamente irmão... pois nenhuma criatura que caminha sobre esse mundo, pode escapar das mãos gélidas da Morte...

Fui então arremessado em um vazio sem fim, caindo rumo a um destino desconhecido, senti a dor dilacerante de um punhal flamejante como mil sóis perfurando meu coração, vi milénios de sabedoria e conhecimento sendo extraídos pouco a pouco, vi um abismo sem fim me engolindo lentamente. Senti o amor de meu Pai sendo tirado de mim, e senti pela primeira vez o abandono. Ouvia o estalar craquelado das asas que há séculos fora minha companheira, enquanto sentia o cair das penas no vazio. Pude sentir sensações de tudo, e fora esvaecendo suavemente com um alívio momentâneo e reconfortante.
Então por fim, senti um baque forte em meu peito, as trevas tomaram conta de meu olhar, e pude então sentir toda a minha Glória Sagrada se esvaindo de mim como a chama de uma vela que chega ao seu fim...

Eu, Mikharaziel, havia tornado-me então.
Humano.

imagem: fallen dark engel
por: Catherine Papillon

7 comentários:

  1. Grande Mikharaziel...
    Grande história...
    Estou muito satisfeito falando em nome de todos do covil por termos firmado esta parceria.
    Uma estréia maior teria sido impossível. Parabéns mais uma vez. Texto muito bom, edição muito boa e parabéns a Catherine pela imagem. Muito bem trabalhado todo o contexto.
    Mais uma vez, sucesso aqui no covil e parabéns pela história.

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  2. muito obrigado, é um grande prazer para mim fazer parte da equipe.

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  3. Oi.
    Parabéns muito boa
    \0/

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  4. Mais uma vez agradeço, e devo dizer que as próximas historias vão ser sequências dessa, aguardem... \o/

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  5. HMMMMM.... realmente meu Lord está escrevendo cada vez melhor pelo que vejo... e sabes como gosto de suas historias em longas noites chuvosas...

    Pois bem Mestre... novamente contando como foi cair por "AQUELA" mortal ¬¬.... para isso leva o meu silêncio.... não gosto nem um pouco "dela" nem do Senhor Meu Mestre a falar dela.... mas sei que terá muito mais por vir... principalmente eu....

    e sei que o que viu, ouviu e presenciou será de muito grado a todos... e é bom ter um "diário" assim não esquecerás de nada mais...

    Parabéns Amo...

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  6. Não a vi chegar minha querida cria... *sorri levemente*

    E também não me lembro de ser de seu costume se intrometer em assuntos que não lhe dizem respeito... Mas de toda forma está certa, há muito mais historias a serem contadas a esses jovens.

    Venha... sente-se ao meu lado e aprecie seu mestre, contando um pouco sobre o que viu sobre o mundo. Minha querida serva...

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  7. XD
    Estamos no aguarde das próximas histórias!

    Abração

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